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terça-feira, 7 de setembro de 2010

F R A N C I S C A, A NOSSA AMADA FRANCISQUINHA !

terça-feira, 7 de setembro de 2010



Francisca

GUSTAVO DE ALMEIDA


São Francisco de Assis, dizia-se dele, falava com os animais. Já Francisca tinha uma capacidade de comunicação, não com animais, mas com Policiais. E nada há de pejorativo nisto: não se pode imaginar um mundo sem ambos. E na dita sociedade civil, muitas vezes o Policial Militar é um ser à parte, incomunicável, que só merece cobrança. "Não alimente os animais", parecem dizer. Em qualquer julgamento, o Policial é sempre um ser que age por instinto, com uma "cultura" própria. "Não alimente os Policiais", parecem dizer. Esquecem, todos, que há um ser humano por trás da farda. Francisca jamais esqueceu.



Francisca se comunicava como poucos, com estes que a sociedade considera quase como animais. Lhes dava amor, carinho, devoção. Uma verdadeira Madrinha.



Dona Francisquinha, no entanto, nos pregou uma peça na madrugada deste sábado, às cinco da manhã. Foi-se embora sem avisar, sem telefonar antes com aquela voz meio rouca, falando rápido, sempre em tom de urgência. Seu sepultamento foi no próprio sábado, de modo que eu só tive a notícia triste depois que tudo estava resolvido.



É típico de Dona Francisquinha. Geralmente, quando ligava para dar um relato, já estava tudo resolvido mais da metade.



Em toda passagem de comando de Batalhão da Zona Sul (e até muitos pela Zona Norte, para onde se atirava das Laranjeiras) lá estava ela. Baixinha, gordinha, óculos pregados no rosto, bolsa balançando. Sempre reverente aos hinos - não à toa que resolvi romper o silêncio deste blog exatamente neste dia 7 de setembro para homenageá-la. Não só por ser dia da Independência, Dia da Pátria - que Francisca representava como poucos brasileiros - como por ser aniversário do comandante-geral da Corporação à qual ela mais se dedicava.



Sua sensibilidade parecia não ter fim. Certa vez, se atirou para Bangu, de táxi. Sei lá quanto daria um táxi de Laranjeiras a Bangu e depois de novo para Laranjeiras. Mas ela ainda ficou circulando por lá.



A família de um Policial Militar vivia o desamparo, parte da casa havia sido incendiada. Ele, o Policial, tinha que fazer serviços extras para sobreviver. A despensa tinha se perdido. Não havia comida e não havia dinheiro - na verdade, era constante tal situação, mesmo antes do incêndio.



Dona Francisquinha embarcou mulher e filho pequeno do mango dentro do táxi. Foram a um destes supermercados gigantes. Encheram o carrinho. Dona Francisquinha pagando tudo e avisando antes. Ela interrompe a narrativa linear para se emocionar, e me solta a frase:



- Gustavo, eu fiquei pra chorar. Quando o menininho pegou um biscoito, ele mal tinha idade pra falar, mas pediu, 'vó, bicoito'. A mãe explicou que era muito raro ter biscoito em casa. Essa eu nunca vou esquecer.



Sim, poderão dizer que dona Francisquinha tentava apagar incêndio com um dedal. Mas que instituição prescinde de uma Francisquinha?



Tinha verdadeira adoração pelos oficiais-padrão da corporação, como o major Vítor Valle, especialista em cães. Volta e meia dona Francisca "colocava pilha" nos comandantes para chamar o major Vítor para alguma operação na área. Gostava do major como se gosta de um filho. E admirava sua postura profissional. Outro que fazia os olhos de dona Francisquinha brilharem era o coronel Hildebrando Esteves, honradíssimo oficial.



- Fui recebida pelo Coronel Esteves, ganhei meu dia - me disse uma vez, quando Esteves ocupava uma diretoria.



Lutava para que Policiais e seus familiares fossem atendidos em hospitais públicos. Era frequente atender o telefone e ouvir dona Francisquinha reclamando de algum hospital ou plantão médico. Pagava a alimentação de Policiais que estivessem em algum ponto de baseamento, destes em que se fica a noite inteira em pé, parado, sem ter como ir ao banheiro. Uma vez me comentou, com raiva, que o síndico de um prédio próximo proibia os Policiais de usar o banheiro da garagem.



- Como é que pode ? Quer que o Polícia faça na rua, que nem bicho ?



A falta de capacidade do síndico de entender o aperto do Polícia e a total capacidade de Francisquinha de compreender e ajudar, sim, isto faz com que seu nome tenha sido, sem seus pais saberem, uma verdadeira homenagem ao santo. Não à toa, a oração descoberta em 1912 na França parece ter sido feita para gente como dona Francisquinha. Que sua memória nos guie, sempre. A Pátria agradece.





Oração de São Francisco






Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.


Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,


Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.


Onde houver Discórdia, que eu leve a União.


Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.


Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.


Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.


Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.


Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!






Ó Mestre,


fazei que eu procure mais:


consolar, que ser consolado;


compreender, que ser compreendido;


amar, que ser amado.


Pois é dando, que se recebe.


Perdoando, que se é perdoado e


é morrendo, que se vive para a vida eterna!

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