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domingo, 30 de agosto de 2009

O PALÁCIO DO "PROIBIDÃO"


Sem conhecimento da prefeitura, megaquadra foi construída para eventos em favela de Santa Teresa

POR LESLIE LEITÃO, RIO DE JANEIRO

O DIA


Rio - Uma obra faraônica encravada entre barracos dos morros do Fallet e Fogueteiro, em Santa Teresa, vem chamando a atenção não apenas de quem passa pela região, mas também da polícia. O gigantesco teto branco que cobre os 3.850 metros quadrados de um ginásio poliesportivo destoa da paisagem ao redor.



Até 2007, o local era um simples espaço esburacado onde crianças jogavam bola e, aos sábados, bailes funk eram realizados. De lá para cá, com investimento e obras pesadas, foi erguida a quadra, em fase de retoques do acabamento.



As instalações fazem inveja a muitos salões de eventos. Luzes e torneiras com sensores, palco com altura para grandes shows e até um camarote com área envidraçada em blindex — com visão panorâmica para toda a área da quadra.



Na quinta-feira, durante ação de rotina para reprimir o tráfico na localidade — foram apreendidos maconha, crack, cocaína e um fuzil AK-47 —, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) chegou ao local mais uma vez. Para os policiais, mais do que o luxo interno, o que chamou atenção foi muro de concreto, pintado de vermelho, que protege um dos acessos à quadra, de frente para o vizinho e rival Morro do Querosene. “Eles construíram casamatas (abrigos para resistir a ataques armados). Por isso, fica complicado chegar aqui a pé. É preciso o apoio do blindado”, explicou um dos PMs da tropa de elite.



A quadra no alto do morro divide paredes com uma creche, num prédio de quatro andares, construído e abandonado pela prefeitura, que estaria sendo usado para atividades sociais. O ginásio, teoricamente, também tem fins sociais, como mostram as fotos da quadra poliesportiva e do vestiário. Mas as extravagâncias do camarote, por exemplo, indicam que as atividades esportivas poderão ser mero detalhe.



Durante toda a sexta-feira, O DIA tentou fazer contato com a Associação de Moradores do Fallet-Fogueteiro para saber quem financiou a obra e por que motivo uma casamata foi construída no acesso à quadra. A presidente Cinthia Luna não foi encontrada, mas outro líder comunitário, informalmente, limitou-se a dizer que “moradores haviam se juntado para contribuir com a obra”. Resta saber agora quando será a abertura oficial do prédio. Ou se o Choque de Ordem da prefeitura — que declarou guerra às construções irregulares em bairros e comunidades carentes — chegará primeiro.



Secretaria de Urbanismo não tem conhecimento da obra



Oficialmente, a Secretaria Municipal de Urbanismo não tem conhecimento da construção. Somente na semana passada uma líder comunitária esteve na sede da Prefeitura do Rio à procura de informações para legalizar o empreendimento.



Procurada, a prefeitura informou: “Nos próximos dias, a Secretaria Municipal de Urbanismo enviará ao local equipe para verificar a situação da construção e apurar as denúncias. A partir do resultado da vistoria, o órgão decidirá as medidas cabíveis. Se for constatado algum problema de polícia, as autoridades responsáveis pela Segurança Pública do Estado serão comunicadas para tomar as providências necessárias”.



O Serviço Reservado do 1º BPM (Estácio) já vinha fazendo um levantamento do local.
O relatório sobre tudo o que foi apurado deve ser entregue, ainda esta semana, à Subsecretaria Municipal de Ordem Pública, para que seja realizada uma vistoria da construção.



“Me causa estranheza que façam um palacete nababesco como esse. Qual o motivo para essa gastança, com sensor de luz no banheiro e de proximidade na pia, blindex, entre outras coisas? Mas não me compete fiscalizar.
Se a prefeitura solicitar nosso apoio para qualquer coisa, estaremos prontos”, disse o comandante do 1ºBPM (Estácio), tenente-coronel Sérgio Mendes.



A 6ª DP (Cidade Nova), em inquérito que investiga a quadrilha do Fallet-Fogueteiro, já apurava informações sobre a interferência de traficantes na obras, e o possível uso de dinheiro do tráfico para a construção, como indicam várias denúncias.
“É preciso saber a origem desse dinheiro, porque é uma obra que impressiona não apenas pelo tamanho, mas pelo luxo”, disse a delegada Monique Vidal.



Doações da comunidade



Entre moradores, frequentadores e comerciantes que teriam colaborado com a construção da quadra está o Instituto Social Luiz Fernando Petra, com sede em Santa Cruz, na Zona Oeste. Ao longo de 2008, Ana Helena Rossi Coelho, coordenadora da ONG, disse ter colaborado com a doação de material de construção.
“A Cinthia me procurou dizendo que não tinha recursos para desenvolver o projeto e nós ajudamos. Durante uns seis meses enviamos material, inclusive para a cobertura. Mas não lembro quanto foi”, afirmou ela.



Segundo moradores, dentro da comunidade, fala-se em R$ 250 mil gastos na construção do ‘palacete’. Valor salgado para dividir com uma população de apenas 2.144 habitantes, somados os morros do Fallet e Fogueteiro, segundo o último censo de 2000.



Bailes funk encontram resistência dentro da própria comunidade



Apesar das supostas contribuições para a construção na nova quadra, os bailes funk não são vistos com bons olhos por todos da comunidade, como indicam vária ligações para o Disque-Denúncia. Além do consumo de drogas, moradores relatam a presença de homens armados nesses eventos e de músicas de apologia ao tráfico e à prostituição infantil.



Numa busca na Internet, em sites como Youtube e Orkut, há várias dessas canções. Até um CD foi gravado, chamado de ‘Bonde do Toki’, em referência a Thiago Alberto Borges, gerente do Fogueteiro. Em outras há homenagens ao ‘patrão’ e suspeito de ter ‘colaborado’ na construção da quadra, Paulo César Baptista de Castro, o Paulinhozinho, gerente-geral do tráfico.



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