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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A GUERRILHA NO RIO

TENDÊNCIAS/DEBATES







A guerrilha nos morros cariocas







André Luís Woloszyn


ESTADO DE SÃO PAULO



O planejamento tático e estratégico aponta para o aprimoramento de táticas de guerrilha por parte das organizações criminosas














Quem assistiu nos noticiários de televisão às impressionantes cenas de violência no Rio de Janeiro -como a derrubada de um helicóptero das forças de segurança, ônibus e carros incendiados, disparos de fuzis de uso exclusivo das Forças Armadas e corpos mutilados estendidos em ruas desertas- poderia facilmente supor que se tratava da ação da guerrilha entre insurgentes, extremistas islâmicos e tropas regulares no Iraque ou no Afeganistão ou mesmo de um atentado terrorista na região do Oriente Médio.






Lamentavelmente, a guerrilha -luta armada de combatentes irregulares contra forças estatais em ações bélicas assistemáticas- se desenvolveu no Rio de Janeiro, mais uma vez, manifestada em confrontos violentos entre facções criminosas rivais na disputa por pontos de venda de drogas.






Poderia também, conforme a ótica, ser classificada como ação terrorista, uma vez que trouxe pânico e medo à comunidade de Vila Isabel, que fechou os bares, abandonou as ruas e se refugiou em suas casas.






Mas o episódio, que resultou na morte de diversas pessoas, entre as quais policiais militares, não pode ser encarado com surpresa nem visto como ação isolada, já vez que confrontos dessa natureza são parte do cotidiano das populações que habitam os morros e as favelas em praticamente todos os Estados brasileiros.






A guerra do tráfico transformou-se em uma endemia que se alastra e ataca em intervalos irregulares, mas de forma constante, numa demonstração de poder e de força da criminalidade às autoridades governamentais.






A impressão que se tem ao analisar episódios semelhantes ocorridos anteriormente é a de que ocorre uma destas duas coisas: ou os gestores públicos não têm a real percepção do que se passa e, por esse motivo, vêm subestimando o poder e a abrangência dessas facções ou, se têm consciência do problema, tais gestores não sabem como agir.






Do contrário, como conceber, por exemplo, que a ordem "de batalha" tenha partido do interior de um estabelecimento penal, a penitenciária de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná?






Ainda que o governo federal tenha negado essa versão, como impedir que lideranças criminosas trancafiadas, responsáveis por outros confrontos semelhantes, continuem mandando nos morros e nas favelas, determinando onde, como e quando serão os próximos ataques?






E se os órgãos de inteligência policial sabiam antecipadamente que a ação iria ocorrer, por que não foram desencadeadas ações preventivas para minimizar o confronto?






Não será fácil responder a todos esses questionamentos sem ocasionar desgaste político e buscar responsáveis para que sejam apaziguados os danos institucionais.






O fato é que já é o quarto episódio num espaço de três anos em que essas questões permanecem sem resposta -e, provavelmente, esse é um dos fatores responsáveis pela repetição desse tipo de violência.






Por outro lado, também é fonte de preocupação a forma como foram desencadeadas as ações no morro dos Macacos, ou seja, a maneira dissimulada dos criminosos ao invadir o local por diversos pontos de acesso e em várias duplas por determinado tempo, dando a sensação de normalidade para os observadores policiais.






Essa característica de planejamento tático e estratégico vai além da criminalidade tradicional e, somada a outros episódios de mesma dimensão, aponta para o aprimoramento de táticas de guerrilha por parte de organizações criminosas. Se atuarem em conjunto, elas poderão, no futuro, afetar seriamente a ordem constitucional do país.






Resta-nos aprender com os erros e buscar soluções para enfrentar essas ameaças, pois elas tendem a um recrudescimento, principalmente em razão da crescente degradação social dos espaços urbanos, um fenômeno de âmbito global, e da carência de políticas mais efetivas para todas essas comunidades.






Desnecessário dizer que os confrontos ocasionaram prejuízos à imagem institucional do país, sobretudo quando nos comprometemos a garantir a segurança de milhões de turistas nacionais e estrangeiros na cidade-sede da Olimpíada de 2016.






ANDRÉ LUÍS WOLOSZYN é analista de inteligência estratégica pela Escola Superior de Guerra, especialista em terrorismo pelo Colégio Interamericano de Defesa (EUA) e em ciências penais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.





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