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FOLHA DE SÃO PAULO
Casos de polícia
Para melhorar segurança pública, é preciso órgãos de controle da polícia que ajam de modo exemplar contra a corrupção
OS ACONTECIMENTOS dos últimos dias, envolvendo ações de policiais e criminosos no Rio de Janeiro, voltaram a expor duas faces da polícia. De um lado, a corajosa atuação de policiais que agem com perícia numa situação crítica -como foi a manobra do piloto da Polícia Militar de conduzir um helicóptero desgovernado, atingido por disparos de traficantes, a uma área inabitada, evitando uma tragédia ainda pior.
De outro lado, além dos deploráveis efeitos colaterais de conflitos que continuam a vitimar inocentes em favelas cariocas, o absoluto descompromisso com o dever e o desprezo pela vida demonstrados por homens da PM no caso da morte do coordenador social do grupo AfroReggae, Evandro João da Silva.
O caso provocou justificado espanto e revolta no país por reunir o que de pior se pode esperar da atuação policial. A confirmarem-se as enfáticas evidências, estamos diante de mais um episódio em que a polícia atuou como os bandidos. Imagens registradas por câmeras de segurança indicam que aqueles a quem foi confiado o dever de defender a lei e a vida não prestaram socorro à vítima e liberaram os autores do latrocínio, após se apoderarem dos bens roubados -um par de tênis e um casaco.
Situações chocantes como essa não acontecem apenas no Rio -e não devem servir para condenar, em bloco, a instituição policial. Mas o episódio ressalta o fato de que há um longo caminho a percorrer até que a sociedade brasileira possa considerar-se bem protegida pelos órgãos de segurança pública.
Há, como se sabe, muitos aspectos a serem aperfeiçoados nessa área, dos baixos soldos à capacitação técnica, passando pela superação dos conflitos entre as polícias civil e militar. Esforços nesse sentido vão se verificando em alguns Estados, como São Paulo, que obteve bons resultados na redução do índice de homicídios. Permanece, contudo, a sensação generalizada de que as corporações e o poder público são lenientes quando se trata de combater abusos praticados pela polícia, como o abuso da violência e a corrupção.
Casos envolvendo desvios de policiais são com frequência abafados ou submetidos a apurações frouxas e inconclusivas, com pouca transparência. Em diversos Estados nem há sequer ouvidorias; as corregedorias não possuem a necessária independência para defender a sociedade contra os maus policiais.
Se o país deseja de fato ter uma polícia melhor e mais eficaz no combate ao crime, livrando-a de sua "banda podre", é preciso contar com órgãos de controle interno e externo que atuem de maneira exemplar. Não é aceitável que o poder público transija com representantes da polícia que traficam droga, recebem propinas, roubam e matam.
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